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segunda-feira, 7 de junho de 2010

Menotti del picchia -poesia"juca mulato": Juliana 15 :)


 Essa é uma pequena parte do poema "juca mulato",pois ele é muito grande.    "Nuvens voam pelo ar como bandos de garças, 
Artista boêmio, o sol, mescla na cordilheira 
pinceladas esparsas  
de ouro fosco.  Num  mastro, apruma-se a bandeira 
de São João, desfraldando o seu alvo losango.

Juca Mulato cisma. A sonolência vence-o

Vem, na tarde que expira e na voz de um curiango, 
o narcótico do ar parado, esse veneno 
que há no ventre da treva e na alma do silêncio. 
Um sorriso ilumina o seu rosto moreno.

No piquete relincha um poldro; um galo álacre 
tatala a asa triunfal, ergue a crista de lacre, 
clarina a recolher entre varas de cerdos e 
mexem-se ruivos bois processionais e lerdos 
e, num magote escuro, a manada se abisma na treva.

Anoiteceu.

Juca Mulato cisma.

2

Como se sente bem recostado no chão! 
Ele é como uma pedra, é como a correnteza, 
uma coisa qualquer dentro da natureza, 
amalgamada ao mesmo anseio, ao mesmo amplexo, 
a esse desejo de viver grande e complexo 
que tudo abarca numa força de coesão. 
Compreende em tudo ambições novas e felizes, 
tem desejo até de rebrotar raízes, deitar ramas pelo ar, 
sorver, junto da planta, e sobre a mesma leiva, 
o mesmo anseio de subir, a mesma seiva, 
romper em brotos, florescer, frutificar!

3

"Que delícia viver! Sentir entre os protervos 
renovos se escoar uma seiva alma viva 
na tenra carne a remoçar o corpo moço..."

E um prazer bestial lhe encrespa a carne e os nervos; 
afla a narina; o peito arqueja; uma lasciva 
onda de sangue lhe incha as veias do pescoço...

Ei-lo, supino e só, na noite vasta.  Um cheiro 
acre de feno lhe entorpece o corpo langue 
e, no torso trigueiro, 
enroscam seus anéis serpentes de desejos 
e um pubescente ansiar de abraços e de beijos 
incendeia-lhe a pele e estua-lhe no sangue.

Juca Mulato cisma. 
Escuta a voz em couro 
dos batráquios, no açude, os gritos lancinantes 
do eterno amor dos charcos.

É ágil como um poldro e forte como um touro; 
no equilíbrio viril dos seus membros possantes 
há audácias de coluna e elegância dos barcos.

O crescente, recurvo, a treva em brilho frange 
e, na carne da noite, imerge-se e se abisma 
como num peito etíope a ponta de uma alfange. 
Juca Mulato cisma... 
A natureza cisma.

4

Aflora-lhe no imo um sonho que braceja;  
estira o braço, enrija os músculos, boceja, 
supino fita o céu e diz em voz submissa: 
"Que tens, Juca Mulato ?..."  e, rebolcado na erva, 
sentindo esse cansaço irritante que o enerva 
deixa-se, mudo e só, quebrado de preguiça.

Cansado ele ? E por quê ? Não fôra essa jornada 
a mesma luta, palmo a palmo, com a enxada 
a suster no café as invasões da aninga ? 
E, como de costume, um cálice de pinga, 
um cigarro de palha, uma jantinha à toa, 
um olhar dirigido à filha da patroa ?

Juca Mulato pensa: a vida era-lhe um nada... 
Uns alqueires de chão, o cabo de uma enxada, 
um cavalo pigarço, uma pinga da boa, 
o cafezal verdoengo, o sol quente e inclemente...

Nessa noite, porém, parece-lhe mais quente 
o olhar indiferente 
da filha da patroa...

"Vamos, Juca Mulato, estás doido ? 
Entretanto, tem a noite lunar arrepios de susto, 
parece respirar a fronde de um arbusto. 
O ar é como um bafo, a água corrente, um pranto. 
Tudo cria uma vida espiritual violenta. 
O ar morno lhe fala, o aroma suave o tenta... 
"Que diabo !"  Volve aos céus as pupilas, à toa, 
e vê, na lua, o olhar da filha da patroa... 
Olha a mata: lá está! O horizonte lho esboça, 
pressente-o em cada moita, enxerga-o em cada poça 
e ele vibra, ele sonha e ele anseia, impotente, 
esse olhar que passou, longínquo e indiferente!

5

Juca Mulato cisma.  Olha a lua e estremece. 
Dentro dele um  desejo abre-se em flor e cresce 
e ele pensa, ao sentir esses sonhos ignotos, 
que a alma é como uma planta, os sonhos como os brotos, 
vão rebentando nela e se abrindo em floradas...

Franjam de ouro, o ocidente, as chamas das queimadas, 
Mal se pode conter de inquieto e satisfeito. 
Advinha que tem qualquer coisa no peito 
e às promessas do amor a alma escancara ansiado 
como os áureos portais de um palácio encantado!...

Mas a mágoa que ronda a alegria de perto 
entra no coração sempre que o encontra aberto...

Juca Mulato sofre... Esse olhar calmo e doce 
fulgiu-lhe como a luz, como a luz apagou-se. 
Feliz até então, tinha a alma adormecida.... 
Esse olhar que o fitou, o acordou para  a vida! 
A luz que nele viu deu-lhe a dor que agora o assombra, 
como o sol que traz a luz e, depois, deixa a sombra...

6

E, na noite estival, arrepiadas, as plantas 
tinham na negra fronde, umas roucas gargantas 
bradando, sob o luar opalino, de chofre: 
"Sofre, Juca Mulato, é tua sina, sofre... 
Fechar ao mal de amor nossa alma adormecida 
é dormir sem sonhar, é viver sem ter vida... 
Ter, a um sonho de amor, o coração sujeito 
é o mesmo que cravar uma faca no peito. 
Esta vida é um punhal com dois gumes fatais: 
não amar é sofrer;  amar é sofrer mais"!

7

E, despertando à Vida esse caboclo rude, 
alma cheia de abrolhos, 
notou, na imensa dor de quem se desilude 
que, desse olhar que amou, fugitivo e sereno, 
só lhe restara no lábio um travo de veneno, 
uma chaga no peito e lágrimas nos olhos!

        A Serenata

        1

        Canta, Juca Mulato... 
        Ele pega na viola: 
        seu dedo nervoso os machetes esfrola. 
        Solta um gemido o aço vibrado 
        como um grito de dor de um peito esfaqueado. 
        É tão suave a canção, tão dolente e tão langue 
        que cada nota lembra uma gota de sangue 
        a fluir e a pingar dos lábios de uma chaga. 
        É noite. A brisa sopra uma carícia vaga.

        A turba espera. O terreiro tem brilhos 
        quando, de chapa, a lua esplende nos ladrilhos 
        e, sentindo a paixão estuar-lhe a garganta, 
        Juca Mulato canta: 
        "Veio coleante, essa mágoa 
        arrastas triste e submisso; 
        também choro, veio dágua, 
        sem que ninguém dê por isso...

        Saltas nos seixos de chofre. 
        Choras. No mundo inclemente, 
        só não chora quem não sofre 
        só não sofre quem não sente...

        Procuras dentre os abrolhos 
        ver o céu que astros povoaram. 
        Eu também procuro uns olhos 
        que nunca me procuraram...

        Os céus não vêem tua mágoa, 
        nem estas ela advinha... 
        Veio d’água, veio d’água, 
        Tua sorte é igual à minha.

        Ora em bolhas vãs tu medras, 
        eu em sonhos bem mesquinhos, 
        Teu leito é cheio de pedras, 
        minha alma é cheia de espinhos...

        Se uma rama se desfolha 
        sobre teu dorso e resvala, 
        corres doido atrás da folha 
        sem poder nunca alcançá-la.

        Às vezes, também, risonho, 
        um sonho minh’alma junca, 
        Corro doido atrás do sonho 
        Sem poder tocá-lo nunca.

        Ventura... doida corrida 
        de uma folha sobre um veio. 
        Folha... Esperança perdida 
        de um bem que nunca me veio.

        Assim vou, sangrando mágoa 
        e doido, para onde for 
        veio d’água, veio d’água 
        corro atrás da minha dor!"

       Alma Alheia

        1

        Que tens, Juca Mulato ? 
        Uma tristeza mansa 
        embaça-lhe o fulgor dos olhos de criança. 
        Ele é outro... Um langor anda a abrasar-lhe a pele. 
        Não sabe definir o que há de novo nele. 
        Fuma e segue pelo ar uma espiral que esvoaça, 
        pensa que seu destino é igual a essa fumaça... 
        "A vida é mesmo assim..."   ele cisma tristonho. 
        "Sai do fogo da dor a fumaça do sonho"...

        Da cocheira, um nitrir, de intervalo a intervalo, 
        vibra no ar... É o pigarço.  Esse pobre cavalo 
        anda esquecido e há muito que, sozinho, 
        sente a falta que faz o calor de um carinho. 
        Juca Mulato todo o dia vinha vê-lo... 
        Afagava-lhe o dorso, acamava-lhe o pelo, 
        e ele, baixando, quieto, as pálpebras vermelhas, 
        nitrindo e resfolgando, espetava as orelhas... 
        Juca Mulato, então, numa voz doce e calma, 
        dizia-lhe baixinho o que ele tinha n’alma. 
        Coisa de pouca monta: umas fanfarronadas, 
        uns receios pueris, façanhas de caçadas, 
        desafios na viola em noites de luar; 
        coisas que tinha pejo até de lhe contar, 
        que sussurrava a custo, onde, por entre os dentes, 
        a gente advinhava  umas frases ardentes: 
        bocas mordendo um seio em que os bicos quentinhos 
        tinham a cor da rosa e a ponta dos espinhos... 
        Ele ria e a risada espoucava-lhe aos pinchos 
        e o pigarço sisudo explodia em relinchos 
        que diriam, talvez, traduzido em frases: 
        "Toma tento, Mulato! Olha bem o que fazes..."

        Juca afagando-o, então, murmurava contente: 
        "Pigarço, você tem uma alma como a gente!"

        Hoje, anda abandonado e pesa-lhe o abandono. 
        Há no seu manso olhar saudades de seu dono. 
        Quem não vê nesse olhar úmido e cor de enxofre 
        que esse cavalo sofre ?

        2

        Vê uma ave voar na tarde calma e suave, 
        vem-lhe o desejo absurdo e doido de ser ave. 
        Quando junto a uma fonte acaso se debruça, 
        se a corrente soluça, ele também soluça... 
        Depois, envergonhado, encolhe-se, procura 
        no seu imo o porquê dessa vaga ternura. 
        Até vendo uma flor, comove-se, suspira... 
        "Juca: toma cuidado... Estás ficando gira... 
        Deixa de te arrastar, como um doido qualquer, 
        atrás da tentação de uns olhos de mulher!"

        E resolve, consigo, ir altivo e insolente, 
        fingir que não padece e mostrar que não sente, 
        montar o seu pigarço, atacar a restinga 
        às foiçadas, beber um cálice de pinga 
        na venda do caminho e, entre parvos caipiras, 
        de mistura, contar três ou quatro mentiras 
        onde lampeja a faca, onde, aos uivos e aos brados 
        põe em fuga, triunfante, um bando de soldados!

        Revive a ilusão! Ele é outro! Salvou-se!

        Insidioso, de novo, um olhar meigo e doce 
        o alucina, o subjuga, o domina, o amolece...

        E nem sabe porque humilhado  obedece 
        à sugestão da luz que cintila naquele 
        lânguido e triste olhar que nunca olhou para ele.

        Fascinação

        Tudo ama! 
        As estrelas no azul, os insetos na lama, 
        a luz, a treva, o céu, a terra, tudo, 
        num tumultuoso amor, num amor quieto e mudo, 
        tudo ama! tudo ama!

        Há amor na alucinada 
        fascinação do abismo, 
        amor paradoxal, humano e forte, 
        que se traduz nas febres do sadismo, 
        nessa atração perpétua para o Nada, 
        nessa corrida doida para a Morte.

        Por isso, quando as lianas 
        em lascívias florais cercam de abraços 
        o tronco hirsuto e grosso, 
        têm, no amplexo mortal, crueldades humanas. 
        Há no erótico ardor de enlaçá-lo, abraçá-lo, 
        a assassina violência de dois braços  
        crispados num pescoço 
        atenazando-o para estrangulá-lo!

        É que o amor quer a morte. Num momento 
        resume a vida, os loucos entusiasmos 
        dos supremos espasmos... 
        Nesse furor que o invade, 
        tem a volúpia da ferocidade, 
        tem o delírio do aniquilamento!

        É por isso que vês, por tudo 
        uma luta de morte, um desespero mudo: 
        a insídia da raiz que mina a terra e a esgota, 
        o caule que ergue o fuste, a rama, em sobressalto, 
        agitando pelo ar a própria dor ignota, 
        no torturante amor do mais puro e mais alto!

        2

        E, na noite estival, 
        enchendo o Espaço e o Tempo, a Luz e a Treva, 
        o turbilhão fantástico se eleva 
        do amor UniversaL.

        Tudo ama! 
        As estrelas no azul, os insetos na lama, 
        a luz, a treva, o céu, a terra, tudo, 
        num tumultuoso amor, num amor quieto e mudo, 
        tudo ama! Tudo ama!...

        3

        Juca Mulato freme. Imerge os olhos entre 
        as estrelas curiosas.

        Não sabe que anda o amor nos espaços profundos 
        a fecundar o ventre 
        das próprias nebulosas 
        na eterna gestação de novos mundos...

        Ele é a matriz da vida: multiplica 
        seres e coisas, numa força eterna, 
        cria o verme, animais que andam de rastros. 
        Mata e ressurge, estiola e frutifica, 
        e, pelo espaço rútilo, governa 
        a prodigiosa rotação dos astros!

        E a vertigem do amor, fascinadora, 
        tudo arrasta, fantástica, nos braços 
        e a terra que palpita, canta e chora, 
        ora imersa na treva ora imersa na aurora, 
        leva através do Tempo e dos Espaços...

        Acendendo no olhar um lampejo divino, 
        Juca Mulato cede à vertigem que o enlaça 
        e brada num transporte: 
        "Arrasta-me também, no turbilhão que passa! 
        Leva-me ao teu destino, 
        Amor que vens para a Vida e que vais para a Morte!"

       Lamentação

        1

        "Amor? 
        Receios, desejos, 
        promessas de paraísos, 
        depois sonhos, depois risos, 
        depois beijos!

        Depois... 
        E depois, amada? 
        Depois dores sem remédio, 
        depois pranto, depois tédio, 
        depois... nada!"

        2

        "Também como esse bosque eu tive outrora 
        na alma um bosque cerrado de emoções. 
        As palmeiras das minhas ilusões 
        iam levando o fuste espaço afora.

        Floriam sonhos; era uma pletora 
        de crenças, de desejos, de ambições... 
        Não havia por todos os sertões 
        mais luxuriante e mais violenta flora.

        Ai! Bosque real, é o tempo das queimadas!... 
        É agosto, é agosto! O fogo arde o que existe 
        em turbilhões sinistros e medonhos.

        Ai de nós!... Somos almas desgraçadas, 
        pois na luz de um olhar lânguido e triste 
        também ardeu o bosque dos meus sonhos..."

Menotte del picchia:Juliana 15 :)


                                                         Essa foto foi tirada em 1967 de menotti del picchia.                                                     Menotti del picchia nasceu em 20 de março de 1892 em São Paulo e morreu em 23 de agosto de 1988 em São Paulo.Menotte del picchia foi poeta,jornalista,pintor,advogado,político,romancista,cronista e ensaista brasileiro.
Aos cinco anos de idade Menotte del Picchia foi para Itapira,uma cidade no interior de São Paulo,lá foi aluno de Jacomo Stávele,um grande professor de matemática.Em 1913 ele publicou "Poemas de vicíos e de vertude" seu primeiro livro de poessias.Em Itapira foi agricltor e advogado militante,lá fez o jornal "O grito"e fez poemas como "maomé" e "juca mulato".E colaborou em vários jornais nos quais "Diário da noite","jornal do comércio","correio Paulista". Em 1924 com seus amigos Cassiano Ricardo e Plínio Sangalo ele fez o "movimento verdeamarelo"uma técnica nascionalista.Ele fez vários livros de romances como entre eles os mais destacados foi "flama e Argila","o homem e a morte","republica 3000" e "salomé" além de vários livros de cronicas e enicios.  

A importante água


A água é muito importante para o meio-ambiente. Uma das principais causas de gasta de água é a falta de consciencia do ser-humano que diperdiça a água do planeta, como em pias, chuveiros, vasos sanitários, etc...
Podemos economizar água das seguintes formas: Reduzindo o tempo de banho, fechando a torneira na hora de escovar os dentes, utilizar um balde com água ao invés da mangueira para lavar o carro, entre outras formas de salvar o planeta.
A água do nosso planeta está sendo gasta de forma desnescessária, e só nós podemos ajudar e salvar a terra. Uma das grandes causas do aquecimento global é o desperdício de água, temos que parar de poluir o meio ambiente para sobrevivermos. O único jeito de economizar água é se concientizando e parando de poluir, gastar água e desmatar as árvores.]